found in India shows a woman with Negroid features.
O CAMINHO DAS ÍNDIAS TAMBÉM PASSA PELA ÁFRICA Deste janeiro até talvez o próximo, milhões de lares brasileiros serão bombardeados com informações sobre a Índia. E isto por conta da superprodução que a Rede Globo de Televisão está estreando, a telenovela “O Caminho das Índias”. O que talvez não seja mostrado é a milenar presença africana nesse país realmente fascinante, primeiro ponto de parada dos migrantes que, há cerca de 50 mil anos deixaram o continente de origem da Humanidade, para povoar o mundo e, através de suas descendências, dar aos humanos a diversidade de aparências físicas que hoje ostentam. No século V a.C, Heródoto, o célebre historiador grego, já afirmava a existência de duas grandes “nações etíopes”, uma na África, outra em Sind, região correspondente aos atuais territórios da Índia e do Paquistão. Essa informação é corroborada no célebre relato do viajante veneziano Marco Polo (1254-1323), no qual lemos que os indianos de determinada região representavam suas divindades como negras e os demônios com uma alvura de neve, afirmando que seus deuses e santos eram pretos. Mais, ainda, em O Livro das Maravilhas, atribuído ao lendário viajante (Porto Alegre, L&PM, 2006, pág.236), lê-se que os habitantes do “reino de Coilum”, atual cidade de Quilon, na província de Querala, eram “todos de raça negra”. Esses negros indianos teriam ido da África, levados como escravos, primeiro por mercadores árabes e depois por navegadores portugueses, perfazendo uma rota litorânea que passaria pelos atuais Iêmen, Omã, Irã e Paquistão. Cativos, eles desempenhavam várias tarefas, com maior destaque para aquelas relativas às de soldados nos exércitos dos chefes muçulmanos, a partir do século XIII. Por volta de 1459, o rei muçulmano de Bengala mantinha um exército de 8 mil escravos africanos. Em 1500 os portugueses anexaram os territórios indianos de Goa, Damão e Diu e transformaram drasticamente a escravidão na Índia: restringiram o desempenho de seus escravos a tarefas menores em seus negócios, casas e fazendas; e as mulheres escravas passaram a ser mais utilizadas como concubinas ou prostitutas.
Com os ingleses, a maioria foi repatriada para a África e seus descendentes foram deixados em bolsões obscuros ao longo da costa ocidental, em particular nas regiões central e sul. Na Índia atual, além dos povos afro-indianos que lá chegaram mais recentemente, os drávidas constituem uma das provas dessa presença. Localizados no Sul do país, e contando cerca de 100 milhões de indivíduos,
os drávidas têm pele bem escura e feições negróides, além de costumes, língua e herança cultural que evidenciam
laços com as civilizações egípcia, cuxita e etíope. Construtores de importantes complexos urbanos como os de Harappa e
Mohenjo-Daro, mais tarde foram reduzidos à condição de escravos e colocados no mais baixo patamar do sistema de castas instituído pelos arianos. Até 1951, o nizam (soberano) de Haiderabad manteve um corpo de guardas denominado “cavalaria africana”. E nessa região, a zona de
Siddi Risala
conserva, na música, na dança e no uso de palavras da língua suaíle, fortes traços culturais africanos. Ademais, pesquisas recentes descobriram a existência de comunidades afro-indianas em Karnakata,
Gujarat e Anhara Pradesh, e seus membros se autodenominam “africanos” (conforme The African diaspora in India, 1989). Nas fotos que ilustram este texto (
http:www.kamat.com/kalranga/people/siddi/htm), os visitantes do Lote vêem indianos do grupo
Siddi, os quais certamente não terão a oportunidade de figurar na suntuosa telenovela da Rede Globo. Nem mesmo no “núcleo dos pobres”.